01 junho 2006

França


Marguerite Duras (1914-1996)

http://www.alovelyworld.com/webfranc/index2.html

Ontem à noite

Marguerite Duras

Tradução de Tereza Coelho

Ontem à noite, depois da sua partida definitiva, fui para aquela sala do rés-do-chão que dá para o parque, fui para ali onde fico sempre no mês de junho, esse mês que inaugura o Inverno. Tinha varrido a casa, tinha limpo tudo como se fosse antes do meu funeral. Estava tudo depurado de vida, isento, vazio de sinais, e depois disse para comigo: vou começar a escrever para me curar da mentira de um amor que acaba. Tinha lavado as minhas coisas, quatro coisas, estava tudo limpo, o meu corpo, o meu cabelo, a minha roupa, e também aquilo que encerrava o todo, o corpo e a roupa, estes quartos, esta casa, este parque. E depois comecei a escrever...

Textos Secretos, Quetzal Editores, 1992 - Lisboa, Portugal

http://zezepina.utopia.com.br/poesia/

5 comentários:

Anónimo disse...

Quirino dos Santos



O Saci
(Lenda)

"Que tens tu, oh, Mariquinhas,

Por que é essa palidez?

Tristeza que nunca tinhas

Te pousa na linda tez.



Ainda há pouco no terreiro

Saltavas a traquinar;

Nesse teu rosto trigueiro

Não se via um só pesar;



Sorrias sempre contente,

já hoje não sorris;

Cozias tão diligente

Cantando sempre feliz.



Já hoje tua cantiga

É toda cheia de dor,

E Aninhas, tua amiga

Não buscas mais com amor.



No quintal as tuas flores

Todas pendem a morrer;

Do sol os quentes ardores

Não lhes vais arrefecer.



Que tens tu, oh, Mariquinhas,

Por que é essa palidez?

Tristeza que nunca tinhas

Te pousa na linda tez!



Mariquinhas, minha neta,

A causa toda já sei,

De andares tão inquieta;

Agora já adivinhei!



Aquela vasta silveira

Além dos campos ali,

É assombrada a noite inteira

Por um medonho Saci.



É ele que vem horrendo

Montar nos bons animais;

A noite toda correndo

Ai! quanto susto nos faz!



Foi ali ele que tu o viste,

Que a tua face beijou...

Depois disso é que assim triste




Mariquinhas, minha neta,

Neta do meu coração,

Não quero te ver inquieta,

Inquieta mais assim, não!



Vai contrita e humilhada

Te prostrar aos pés de Deus;

Expiar, jura, emendada

Os graves pecados teus.





Que hás de ter infinito

Prazer imenso a fruir,

E o Sererê maldito

Para longe há de fugir.



Eia pois, oh Mariquinhas,

Finda a tua palidez;

Tristeza que nunca tinhas

Não tenhas mais desta vez!"



Assim falou a velhinha

No seu sisudo falar;

Aconselhou a netinha

E logo pôs-se a rezar!



Mariquinhas magoada

Não responde à velha, não!

Ai! pobre, de envergonhada

Ficou a olhar para o chão.



Mas de noite a janelinha

Do seu quarto se entreabriu,

E houve quem visse asinha

Que um vulto a ela assumiu!



Como ela deixa a desoras

Um vulto junto de si?!

Venham cá dizer-me agora

Que não seria o Saci!...

K disse...

Fernando
De que nacionalidade é este poeta?
Francês? Não creio. deve incluir o poema no País correspondente. Mais atenção para a próxima.
Até sempre
Paula Cardoso

PS: O seu nome escreve-se com letra maiúscula e é o N.º 15 do 7.º 2.ª. ATENÇÃO!

Anónimo disse...

Verdes são os campos

Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.

Luís de Camões

Anónimo disse...

Retrato de uma princesa desconhecida

Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos cruéis e fraudulentos
Foi um imenso desperdiçar de gente
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária exilada sem destino


Sophia de Mello Breyner Andresen

Anónimo disse...

goxtei muito deste poema