18 maio 2006

Grécia

Naxos

Konstantiínos Kaváfis (Alexandria, 29/4/1863-29/4/1933)

O nome do poeta no alfabeto grego: Κωνσταντίνος Πέτρου Καβάφης,


MAR DA MANHÃ

Hei de deter-me aqui. Também eu contemplarei um pouco a natureza.
Do mar da manhã e do céu inube
azuis brilhantes, e margem amarela; tudo
belo e grandiosamente iluminado.

Hei de deter-me aqui. E me enganar que os vejo
(em verdade os vi por um momento ao deter-me)
e não também aqui minhas fantasias,
minhas recordações, as imagens do prazer.

[51, 1915]

ΘΑΛΑΣΣΑ ΤΟΥ ΠΡΩΙΟΥ

Εδώ ας σταθώ. Κι ας δω κ’ εγώ την φύσι λίγο.
Θάλασσας του πρωιού κι ανέφελου ουρανού
λαμπρά μαβιά, και κίτρινη όχθη· όλα
ωραία και μεγάλα φωτισμένα.

Εδώ ας σταθώ. Κι ας γελασθώ πως βλέπω αυτά
(τα είδ’ αλήθεια μια στιγμή σαν πρωτοστάθηκα)·
κι όχι κ’ εδώ τες φαντασίες μου,
τες αναμνήσεις μου, τα ινδάλματα της ηδονής.

[51, 1915]
Organização: R. M. Sulis, Tradução: R. M. Sulis, M. P. V. Jolkesky, A. T. Nicolacópulos

http://cavafis.i8.com/a051.htm

Lucian Blaga, Roménia

Primavera em Moeciu

http://pt.trekearth.com/gallery/Europe/Romania/page27.htm

Lucien Blaga

DORUL

Seţos iţi beau mirasma şi-ţi cuprind obrajii
cu palmele-amândouă, cum cuprinzi
în suflet o minune.
Ne arde-apropierea, ochi în ochi cum stăm.
Şi totuşi tu-mi şopteşti: "Mi-aşa de dor de tine!"
Aşa de tainic tu mi-o spui şi dornic, parc-aş fi
pribeag pe-un alt pământ.

Femeie,ce mare porţi în inimă şi cine eşti?
Mai cântă-mi înc-o dată dorul tău,
să te ascult
şi clipele să-mi pară nişte muguri plini,
din care înfloresc aievea — veşnicii.


SAUDADE
Sedento bebo teu perfume e seguro teu rosto
Com ambas as mãos, como quem segura na alma um milagre.
Queima-nos a proximidade, olhos nos olhos, como estamos.
E contudo sussurras-me: "Tenho tanta saudade de ti!"
Falas tão misteriosa e desejosa, como se eu estivesse exilado em
outro mundo.

Mulher,
que mares levas no peito, e quem és?
Canta ainda uma vez mais tua saudade, por que te ouça
e os instantes me pareçam botões prenhes de que florescessem de facto... eternidades.

De Poemele Luminii (Os Poemas da Luz), 1919

http://www.algumapoesia.com.br/poesia2/poesianet156.htm

Brasil

Búzios

Vinicius de Moraes

Procura-se um amigo

Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor.. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.

Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.
Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.
Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.

http://www.secrel.com.br/jpoesia/vm4.html#procura

Timor


Jorge Lauten

Não Mais Sob a Árvore de Bô

Não mais a pureza de Ramahyana
o incenso e o sândalo
os pés nus nas pedras do templo

enquanto eles comerem na minha mesa
na velha casa de Dili

não mais me sentarei sob a árvore de Bô


http://www.jornaldepoesia.jor.br/jo02.html